terça-feira, 17 de janeiro de 2012

j. osorio - educação em um mundo em crise

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Intercâmbio Virtual Educação em um Mundo em Crise: Limites e Possibilidades frente à RIO + 20
Grupo de Trabalho de Educação

Síntese do Módulo “Aprendizagens Necessárias para aprofundar uma democracia com diversidades e sustentabilidade”
Por Jorge Osorio

1.      Usando a imagem do teatro do Boal dissemos que a educação necessita “mover-se” (mover-se de velhos paradigmas a novos modos de educar)… aprender e gerar capacidades que permitam que as pessoas e suas comunidades tenham uma vida boa, justa e eco-responsável. Fazemos tal afirmação em tempos de significativos movimentos sociais em todo o planeta, de uma nova onda democrática que busca estabelecer as bases de uma (outra) maneira de sair da crise atual que não seja a dos financistas e das ditaduras dos mercados, para avançar para “outro mundo possível”.  Acreditamos que vivemos não apenas uma nova crise do capitalismo, mas sim uma crise de civilização que tem raízes epistêmicas, éticas, políticas, econômicas e ecológicas.

2.       Entendemos que se trata de promover uma educação que contribua para uma redistribuição social dos conhecimentos e do poder, que potencialize o sentido de autonomia, solidariedade e diversidade expressado pelos novos movimentos sociais. Acreditamos que desta forma poderemos avançar na direção de novas arquiteturas democráticas, inclusivas e participativas.

3.      Qual o papel do movimento global dos educadores e educadoras neste contexto? Como potencializar as aprendizagens que são geradas nos mais diversos espaços de socialização? Que tipo de capacidades docentes deveremos desenvolver para tornar possível um “giro paradigmático” na educação local e global? Como desenvolver os recursos culturais e institucionais para mobilizar-nos pelo que acreditamos (como diz Moema Viezzer em sua contribuição), para visibilizar e empoderar nossos pensamentos e práticas transformadoras?

4.      Do desenvolvimento de todo o percurso de nosso intercâmbio virtual podemos sintetizar uma verdadeira agenda inspiradora de programas e mobilizações, construída a partir da identidade e das propostas das chamadas “novas educações”: comunitárias, populares, cidadãs, eco-reflexivas, “para toda a vida”. Dos conteúdos dessa agenda valorizamos especialmente os seguintes:

-       a educação crítica e transformadora deve se desenvolver em todos os espaços humanos de socialização, e por isso é preciso criar capacidades nos educadores e educadoras para gerar processos de aprendizagens em diferentes modalidades, com diversos tipos de sujeitos e comunidades, e em consonância com suas formas culturais.
-       este enfoque de educação como gestão comunitária ou social dos processos de aprendizagem, inclusão e participação das pessoas na sociedade tem uma justificativa estratégica pois facilita que esses sujeitos:

a) entendam os complexos processos históricos atuais a partir de um olhar holístico, reflexivo, ecológico;
b) desenvolvam seus recursos cívicos e cognitivos para que participem da vida pública e exerçam-defendam seus direitos humanos, 
c) dêem sentido à Vida e isso vai gerar uma consciência de pertencimento planetário (eco-pertencimento) e de justiça ecológica, como fundamentos éticos do “desenvolvimento de um Bem Viver”.
5.      Quais serão então os conteúdos de uma plataforma para uma mudança neo-paradigmática em educação que contribua para os debates da Rio+20? Acreditamos que podemos identificar os seguintes:

a)      As políticas educativas dos países e das regiões devem ser expressão de processos culturais e políticos de ampla participação cidadã. Por isso é preciso fortalecer os movimentos de cidadania de estudantes e docentes, que globalmente trabalham pela democratização da política e do reconhecimento do direito universal a uma educação inclusiva, sem exclusões nem discriminações.

b)      A prioridade dos recursos financeiros em educação deve estar dirigida à plena inclusão de crianças, jovens e pessoas adultas aos serviços educativos públicos, para assegurar desta maneira o direito universal à educação e à aprendizagem. Os movimentos sociais devem exigir processos participativos deaccountability e a existência de conselhos cidadãos que velem pela orientação inclusiva das políticas educativas.

c)      A demanda social por educação na sociedade atual não pode se expressar apenas em referência aos serviços escolares; inclui o acesso às novas ferramentas e redes tecnológicas de comunicação, a alfabetização digital e o fortalecimento dos espaços comunitários como espaços de aprendizagens cognitivas, cívicas, ecológicas, humanitárias. Devemos perguntar-nos se por acaso a escola seguirá sendo, nos próximos tempos, a única agência educadora na sociedade.

d)     As ações educativas devem manifestar uma opção significativa pela formação integral dos e das jovens, que lhes fortaleça o sentido (a razão de ser) de aprender e participar civicamente, de intercambiar saberes e expressar-se culturalmente, especialmente, naqueles lugares onde se lhes submete muito cedo ao trabalho abusivo, à submissão sexista, ao desemprego ou ao poder dos cartéis criminosos e ao narcotráfico. Neste plano a educação comunitária e popular e os movimentos sociais têm um papel crucial a desempenhar para gerar redes de direitos humanos, de proteção e inclusão social, de participação cidadã e de entidades formativas pós-escolares.

e)      A mudança paradigmática em educação, como condição para avançar em direção a sociedades justas e eco-sustentáveis deve supor mudanças nos enfoques tecnicistas e economicistas das políticas educativas vigentes. Propriamente podemos dizer que se requer una “revolução educativa”, como sustentaram os movimentos estudantis chilenos ou colombianos: é preciso reivindicar o direito a aprender “de todas as pessoas durante toda a sua vida”. No entanto, esta palavra de ordem não deve ser entendida como a expressão de um tipo de capacitação permanente apenas para satisfazer as necessidades dos mercados e os requisitos das velhas e novas indústrias. Trata-se de desenvolver “educações” que desenvolvam capacidades humanas que permitam o “bem viver”, incluindo as capacidades cognitivas, de pertencimento e participação social, de convivência com outros e outras na diversidade e na diferença, o cuidado e planejamento da própria vida, com pleno apego solidário à vida dos ecossistemas nos quais se desenvolve a Vida. Outro currículo, outras instituições são possíveis.

f)       As organizações educativas e os movimentos globais dos educadores e educadoras têm uma tarefa comum, que é desenvolver itinerários pedagógico-políticos em função dos requisitos formativos de territórios concretos, a partir de suas próprias culturas, de suas economias locais e de sua relação com os mercados globais, de suas próprias estruturas de emprego, das capacidades de carga de seus eco-sistemas e das necessidades insatisfeitas de suas populações para desfrutar um bem-estar eco-humano. Isso supõe:

a) programar uma criatividade pedagógica em maior escala;
b) desenvolver metodologias integradoras,
c) produzir conhecimentos a partir das boas práticas e articular a produção de saberes sociais com as entidades formais de pesquisa e de formação de educadores e educadoras,
d) gerar capacidades docentes polivalentes, criar ou recriar velhas e novas organizações educativas (escolares e não-escolares),
e) democratizar o “open learning” através de comunidades de aprendizagem que amplifiquem as práticas transformadoras em educação, e 
f) conquistar a validação e o reconhecimento institucional destas políticas, o que implica uma participação ativa na política local e na geração de um poder de incidência suficiente para produzir as mudanças que são requeridas para que estas Outras educações sejam possíveis.

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